O objetivo do blog é divulgar os dispositivos alternativos na rede de Saúde Mental e propagar a ideia da luta antimanicomial. A partir da democratização da psiquiatria, os profissionais de saúde mental visam trabalhar de forma interdisciplinar no âmbito do novo contexto da psiquiatria renovada.

terça-feira, 2 de março de 2010

O Serviço Social e as Residências Terapêuticas


Primeiramente, o trabalho do assistente social, juntamente com uma equipe (psicólogos e cuidadores sociais), é introduzir os moradores no social. No que é uma casa, no que são as ruas, os bairros, a cidade. Padaria, mercado, cinema, teatro, comprar roupas, relógios, almoçar fora. Todas essas atividades, que são tão corriqueiras, precisam ser construídas, mais ainda, precisam de tempo para isso. Tempo de cada um, tempo de trabalho. O simples fato de um morador pedir algo – o processo de sair e comprar cada coisa que se pede -, precisa de um tempo para ser construído. Nesse processo, ocorrem empecilhos, combinações que não se cumprem, até acontecer a saída.
O segundo passo é construir uma casa. Construir com os moradores novas significações que permitam estar na cidade. Esse movimento produz novas histórias e relembra antigas. Nesse sentido, é preciso que se esteja com eles nesses espaços reconhecendo histórias e lembranças, mediando contato, para que assim possam estabelecer outros laços.
Entre as áreas de Saúde mental e Assistência Social – no que diz respeito à gestão de políticas públicas -, surge uma tensão formadora de trabalho que convoca construção permanente de rede, para além dos limites institucionais.

As residências terapêuticas são um espaço de ação social onde o sujeito cria relações significativas com o meio nas interações cotidianas do seu universo de referências individuais. São para seus moradores, dispositivos de produção de subjetividade. Deste modo, com a mudança para o tipo de dispositivo residencial os novos moradores produzem uma releitura de suas experiências passadas, iniciando um processo de reconstrução e atualização da identidade. Esta reorganização pessoal é fundamental para a construção subjetiva do novo espaço de moradia, pois possibilita aos indivíduos moldarem a sua relação com o ambiente, além de experimentarem o seu campo de manobra no território.
            O trabalho necessário a ambas equipes envolvidas (CAPS e RT) é acompanhar como cada um apropria-se de seu endereço, espaços da casa e da rua, criando uma atmosfera doméstica. Em alguns momentos, esse acompanhamento vai exigir mediadores, um investimento mais dirigido. A tarefa é lidar com sujeitos cujo sentimento de pertencimento é algo a ser construído, acompanhar como se dá a invenção de cada caso exige no cotidiano, estar atento aos detalhes e aos efeitos das intervenções (a divisão de tarefas, a presença de cuidadores e estagiários, a figura de uma coordenação).
            Portanto, segundo José Augusto Bisneto, “ao repor o usuário dos serviços psiquiátricos na sociedade, o Serviço Social não deve fazê-lo na perspectiva de ajustamento e adaptação. É necessário tentar criar condições para o mínimo de reapropriação por ele das relações sociais, na família, trabalho, gênero, raça etc. A noção de cidadania não é meramente formal. Benefícios, usufruto de aparatos de Estado e serviços sociais não podem ser apenas para cumprir dispositivos legais, mas para possibilitar a reapropriação social concreta no cotidiano. Não se deve lutar pelos direitos dos portadores de transtorno mental isolada e descontextualizadamente”.

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